quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Velha do Shopping

  Quem mora ou já morou em Aracaju certamente já deve ter ouvido falar da senhorinha que desfilava com seus cabelos completamente soltos e rebeldes, seu rosto coberto por um pó branco, óculos escuros e roupa simples, que frequentava as lojas e restaurantes do shopping.
   Todos a chamavam de "velha do shopping" e cada um contava uma versão diferente sobre sua estória.. A mais comentada envolvia um trauma entre ela e a morte de sua mãe, que a fez "enlouquecer". Propunham também que era uma mulher de posses, muito rica e andava com seu motorista particular.
   A verdade é que nunca soube ao certo o que estava por trás da "velha do shopping", mas sua figura sempre estimulava a minha imaginação. Lembro que a observava muito, me perguntava se ela era consciente de si mesma. se realmente tinha posses, porque sempre andava sozinha e sempre tão esquisita e com aspecto descuidado?. Muitas vezes tive a impressão de vê-la sorrir, e cheguei a pensar: - Acho melhor essa versão dela, talvez a consciência possa destruir qualquer manifestação de alegria (caso a lendária estória do trauma fosse verdadeira).
   Anos se passaram e nunca tive coragem de falar com ela. Até que um grupo de profissionais da saúde impulsionou uma guinada em sua vida, e então ela ganhou nome: Maria José, proporcionaram um tratamento psicológico, o que desencadeou uma mudança radical em seu visual e comportamento, não a reconheci quando a vi no noticiário. Na verdade essa boa ação não só virou noticia como também assunto recorrente nas conversas no trabalho, na escola e em casa. Ela era uma lenda.
   Ainda assim as informações sobre sua real identidade eram imprecisas. Passado algum tempo, aquela velha desconhecida, querida por todos, se jogou do elevado vindo a óbito. Ganhando as manchetes novamente, dessa vez de uma forma trágica e triste. A velha do shopping eternizou-se como lenda.
    Algumas vezes, talvez seja melhor a inconsciência sob uma determinada realidade. A verdade as vezes pode ser insuportável para algumas pessoas. Não sei o que levou a um ato de desespero, mas quero lembrá-la como aquela velha figura que parecia sorrir.
Milena Macena do Espírito Santo.

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